Psicomotricidade vs. Terapia Ocupacional: Como se distinguem?

A intersecção entre a Psicomotricidade e a Terapia Ocupacional tem sido objeto de debate e investigação contínuos no campo da saúde e reabilitação. Estas disciplinas compartilham o objetivo comum de promover o bem-estar e a funcionalidade dos indivíduos, mas as suas abordagens e métodos divergem, frequentemente. Por isto, surge a necessidade de uma compreensão mais clara das distinções entre estas duas práticas, por forma a melhor orientarmos profissionais de saúde e otimizarmos os resultados dos nossos pacientes.

Neste artigo colaborativo, apresentamos uma análise comparativa entre a Psicomotricidade e a Terapia Ocupacional, esclarecendo o foro de cada abordagem terapêutica. Ao examinarmos aspetos-chave, como fundamentos teóricos, objetivos terapêuticos e técnicas de intervenção, pretendemos fornecer uma visão abrangente das diferenças entre as duas terapias. Esperamos promover um diálogo construtivo e subsidiar uma prática clínica mais informada e eficaz, visando sempre a promoção da saúde e qualidade de vida.

Psicomotricidade

Quando olhamos para a palavra Psicomotricidade podemos dividi-la em duas palavras: “Psico”, que nos leva para as emoções, para o pensamento e, para a cognição, e; “Motricidade”, que é a força motriz, a energia de ação, ou seja, aquilo que nos faz mover e nos impele à ação com o mundo e com os outros.

Podemos dizer que a Psicomotricidade é uma terapia que intervém através do corpo, do movimento, das emoções e da relação em diversos contextos de atuação. Baseada numa visão global do ser humano, a Psicomotricidade encara de forma integrada as funções cognitivas, socioemocionais, simbólicas e motoras. O seu enfoque está centrado na promoção da capacidade do indivíduo agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo.

Se olharmos para a Infância e Adolescência e pensarmos na “Patologia do agir”, entende-se como patologia do agir as alterações de conduta. Estas alterações traduzem-se em dificuldades expressas ao nível do corpo, em termos do comportamento, ou seja, como age este corpo nos seus domínios. Vejamos quando falamos de Perturbação da Hiperatividade e Défice de Atenção, Perturbações de Oposição, Perturbações de Humor, Perturbações da Ansiedade ou até Doenças do Comportamento Alimentar, o denominador comum é a ação deste corpo. Isto é, a expressão
alterada na forma como o seu corpo se comporta quer intra, quer interpessoalmente. Nestas alterações observamos dificuldades na sua capacidade de regulação emocional, que se transmitem na sua capacidade no jogo, na interação, nos relacionamentos, na sua prática motriz (coordenação e praxias). Esta prática motriz traduz-se em dificuldades na construção de vários fatores psicomotores de base impactantes na funcionalidade (autoimagem, esquema corporal, interação social, realização das atividades).

A função do psicomotricista é usar, no espaço terapêutico, o corpo como veículo para a regulação, criando interação, organização, planeamento, melhorando a atenção e a memória. As atividades propostas têm um carácter semiestruturado, ou seja, permitem a atividade espontânea, onde a criança propõe diferentes formas de expressão (motora, gráfica, verbal, sonora, plástica, etc.); mas também contemplam oportunidades de modificação intencional do comportamento e redirecionamento da atividade e seus conteúdos por parte do Psicomotricista, permitindo-lhe atingir os seus objetivos de trabalho.

Quais são os campos de atuação?

O Psicomotricista atua em todas as idades nos seguintes níveis:

Preventivo: promoção e estimulação do desenvolvimento, incluindo a melhoria/manutenção de competências de autonomia;

Educativo: estimular o desenvolvimento psicomotor e o potencial de aprendizagem;

Reeducativo ou terapêutico: quando ocorrem perturbações do desenvolvimento, da aprendizagem e/ou do comportamento ou, ainda, patologias de ordem psíquica e neurológica que comprometem a qualidade de vida da pessoa (perturbações da coordenação motora, perturbação de défice de atenção e hiperatividade, perturbações psiquiátricas, deficiência intelectual, perturbações do espetro do autismo).

A terapia psicomotora é indicada para todas as problemáticas que afetem os seguintes domínios: motricidade global e fina; planificação, sequencialização e execução do gesto; perceção auditiva, visual e tátil-cinestésica; tónus; orientação espacial e temporal; lateralidade; aquisição da escrita; e comunicação verbal e não verbal.

Terapia Ocupacional

A Terapia Ocupacional é uma área da saúde que intervém na prevenção, avaliação e tratamento de condições de saúde que comprometam ou coloquem em risco o desempenho ocupacional – sejam estas condições motoras, cognitivas, emocionais ou sociais, em qualquer fase da vida e, que possam estar a restringir a sua atividade e participação nas atividades do dia a dia.  (Dec- Lei n.o 261/93 de 24 de julho).

Ocupacional vem exatamente de Ocupações! Um Terapeuta Ocupacional (TO) atua através de planos de intervenção baseados na ocupação.

Mas o que são, afinal, as ocupações?

As nossas ocupações são as coisas que fazemos e que refletem quem somos: desde que acordamos, até irmos dormir! Pois é, até o sono é uma ocupação. A nossa profissão, os nossos hobbies, os nossos papéis sociais… coisas tão simples como lavar os dentes, preparar uma refeição, conduzir um carro, escrever no computador, lavar o chão ou praticar um desporto… são exemplos de atividades que desempenhamos todos os dias e, que são as nossas ocupações!

O Terapeuta Ocupacional analisa as ocupações onde existam problemas de desempenho e intervém de forma a capacitar ou a adaptar as atividades, devolvendo ou criando a máxima autonomia e independência.

Em Pediatria, a terapia ocupacional foca-se em descobrir e maximizar o potencial de cada criança e adolescente, para que seja independente nas suas atividades diárias (em casa, na escola ou na comunidade). Algumas dessas atividades são o brincar, os autocuidados, a escrita, a alimentação, entre outras.

O TO avalia as atividades que a criança não consegue realizar ou sobre as quais apresente alguma dificuldade. Por exemplo: na Escola, se tem dificuldades a escrever, chutar, saltar à corda… ou, nos Autocuidados, se não se consegue vestir/despir, abotoar, atar os atacadores, lavar os dentes ou tomar banho. Posteriormente, são analisadas quais as estruturas e/ou funções que possam estar a limitar o desempenho da criança, por ex.: dificuldades de coordenação motora, dificuldades na motricidade fina, na atenção, no planeamento ou processamento sensorial.

São estes alguns sinais de alerta que o devem levar a procurar um Terapeuta Ocupacional:

  • Dificuldades nas atividades de vida diárias como o vestir, despir, calçar, apertar sapatos, botões ou atacadores;
  • Não gostar de tomar banho, pentear, lavar a cara, as mãos ou os dentes;
  • Na alimentação não consegue usar os talheres, não tolera certas texturas ou é seletivo nos alimentos que come;
  • Pega no lápis de forma incomum ou inverte números ou letras ao escrever;
  • Se não gosta de se sentir sujo;
  • Não explora os brinquedos ou brinca sempre com o mesmo;
  • Prefere brincar sozinho e não interage com os amigos ou família;
  • Toca constantemente em tudo;
  • Dificuldade em manter a atenção e/ou permanecer sentado;
  • Gostar de girar/rodopiar frequentemente;
  • Ser sensível a sons e ruídos;
  • Parece não medir a força que usa;
  • Apresenta trabalhos e cadernos sujos e com riscos;
  • Dificuldade em deixar que lhe cortem ou toquem no cabelo.

 

 

Carolina Coimbra, Terapeuta Ocupacional e Alexandra Sá, Psicomotricista

Um artigo colaborativo entre a Psicomotricista Alexandra Sá e a Terapeuta Ocupacional Carolina Coimbra

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