O Canivete Suíço

Artigo de Alcino Melo, Ergonomista e Técnico Superior de Segurança

O nosso corpo é uma (ou várias) ferramenta de trabalho. Poderíamos fazer uma comparação algo bizarra, assemelhando-o, embora tenha surgido primeiro, a um “canivete suíço” dotado de inteligência (humana, já agora).

Este multifunção pode ser usado aproveitando ao máximo as suas capacidades e potencialidades mas com enorme respeito pelas suas fragilidades e limitações. Só temos este corpo e devemos trata-lo de modo a que ele funcione o melhor possível durante o maior tempo possível. Usamo-lo para trabalhar mas precisamos dele em bom estado para aproveitar ao máximo os prazeres da vida.

Não estamos só a pensar na possibilidade de ocorrência de acidentes de trabalho e nas suas consequências, algumas vezes fatais… mas também, e principalmente, na degradação repentina ou gradual da saúde física e mental ou as duas numa, provocada pelas agressões de vária ordem a que quem trabalha está exposto diariamente.

Faço uma pausa aqui para dizer que este texto não pretende ser uma abordagem científica, tão só para transmitir, como ergonomista, aquilo que eu penso sobre a importância que a ergonomia pode ter na melhoria da vida das pessoas enquanto trabalham.

A ergonomia olha para o ser humano enquanto individualidade e não como uma média estatística abstrata. Somos universalmente iguais mas especificamente diferentes. Por isso, o trabalho tem que corresponder às expectativas de cada um de nós. Sofrer a trabalhar não faz parte desta equação. Pode parecer utopia.

É a partir do conhecimento das pessoas, nas suas dimensões biopsicossociológicas, que a ergonomia propõe objetivos de criar ou transformar o trabalho de modo a que possa ser realizado por qualquer ser humano, de forma voluntária e não lesivo da sua integridade, sem esquecer os determinantes fatores de eficácia e eficiência na produtividade e sustentabilidade das organizações.

Em que medida os detentores dos sistemas sociotécnicos, ou seja, os empregadores, os empresários, a entidade patronal, estão dispostos a acreditar na perspetiva de implementar as medidas necessárias para tornar o trabalho dos seus colaboradores mais humanizado.

Acreditamos ser um investimento com retorno assegurado.

Mas o ergonomista não age sozinho. É uma das peças de um puzzle. Só com a interação transdisciplinar com outros técnicos de outras áreas de intervenção como o técnico de segurança, médico do trabalho, enfermeiro do trabalho, fisioterapeuta, psicólogo, sem esquecer a contribuição determinante dos próprios trabalhadores e carta-branca do empregador, poderemos conceber ou transformar locais e conceitos de trabalho em algo agradável, compensador e rentável.

Humanizado, no sentido de adaptado ou adaptável a cada pessoa.

Humanizado, enquanto se possa conciliar com outras dimensões da vida – familiar, social….

Humanizado, porque compensador.

Humanizado, na medida em que contribua para o desenvolvimento de cada um.

 

Mas, na prática, o que é que a ergonomia pode fazer para ajudar o canivete suíço pensante?

  • Design e dimensionamento dos locais de trabalho determinantes na realização de movimentos, gestos e posturas;
  • Contribuição na definição de layouts mais favoráveis;
  • Definição de requisitos da qualidade e quantidade da informação de modo a facilitar o seu processamento;
  • Contribuição na definição de ritmos de trabalho, tempos de trabalho e pausas;
  • Incentivo à mecanização e/ou automatização de operações repetitivas ou que exijam esforço físico excessivo;
  • Contribuição na determinação dos parâmetros ambientais mais adequados para a realização de diferentes atividades laborais, nomeadamente a iluminação e o ambiente térmico.

Por agora dizer também que, acreditamos, por experiência própria e por conclusões de estudos sobre atividade laboral, que um ambiente organizacional que valorize a comunicação interpessoal e intergrupos, bem como a existência de condições e organização do trabalho adequadas ao desenvolvimento das atividades profissionais, mas que também permita espaço e tempo para uma vida compensadora fora do trabalho, são fatores de elevado grau preventivo face ao poder erosivo que o trabalho pode ter nas pessoas.

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