“Então, o bebé já dorme a noite toda?”

Pode parecer-lhe inofensiva, esta pergunta… Mas, sabia que para quem ouve, especialmente para pais de “primeira viagem”, a mesma pode soar a uma avaliação da sua competência parental?

Na verdade, nesta pergunta esconde-se uma série de pressupostos sociais e culturais sobre o sono infantil. Estudos mostram até que alguns pais e mães podem suavizar ou distorcer a verdade, quando falam sobre o sono dos seus bebés. Numa sociedade onde se valoriza o sono contínuo, consolidado, independente e solitário e que muito frequentemente se associa “dormir a noite toda” com “bom bebé” e “bons pais”, admitir que a criança ainda acorda várias vezes pode ser percebido como um fracasso.

No campo da psicologia do desenvolvimento, sabemos que o sono infantil é um processo complexo, em constante maturação, moldado por fatores neurológicos, emocionais e relacionais. Ao contrário do que se possa pensar, não é esperado que os bebés durmam a noite toda, sem despertares, nos primeiros meses ou anos de vida. Mesmo em adultos, o sono não é um bloco contínuo de horas, todos despertamos brevemente entre ciclos de sono, mas voltamos a dormir sem perceber.

Os despertares noturnos são biologicamente normais e têm uma função adaptativa: servem para alimentar, proteger e conectar. Em termos evolutivos, bebés que despertavam mais à noite tinham maior probabilidade de sobrevivência, pois estavam mais protegidos contra ameaças e desidratação.

Mas, afinal, o que é dormir a noite toda?

Para muitos pais isso significa 10 a 12 horas seguidas, sem despertares. Já na literatura científica, “dormir a noite toda” é frequentemente definido como um período de 6 a 8 horas contínuas.

A maturação do sono infantil tem o seu ritmo próprio, com ciclos mais curtos, uma proporção maior de sono REM (o sono mais leve e ativo) e uma arquitetura em constante transformação. Quando se fala num bebé que “dorme a noite toda”, é importante compreender que isso raramente ocorre antes dos 6-9 meses de vida e que bebés saudáveis podem continuar a despertar 1–3 vezes por noite até aos 12 ou 24 meses, sem que isso represente uma patologia.

A consolidação do sono noturno é influenciado pela maturação neurológica – o sistema nervoso ainda está a desenvolver os ritmos circadianos; pela autorregulação e pelo relacionamento parental – e a forma como os cuidadores interpretam e reagem aos despertares, sendo expectável que os cuidadores atendam tanto às necessidades fisiológicas, como emocionais do bebé.

O sono nos primeiros anos é altamente variável e a expectativa de que um bebé durma várias horas seguidas durante a noite, sem intervenção dos cuidadores é irrealista e desajustada ao que a ciência nos mostra sobre o desenvolvimento humano saudável.

Na consulta de sono do bebé, podemos ajudar a:

  • Reconhecer padrões normativos de sono em diferentes idades;
  • Avaliar o impacto dos padrões de sono no funcionamento emocional e relacional da família;
  • Perceber a influência de fatores emocionais, ambientais e parentais no sono infantil;
  • Construir rotinas flexíveis e sensíveis;
  • Tomar decisões (por exemplo: co-sleeping, amamentação noturna, transição de quarto, etc).

 

Um artigo de Susana Magalhães, Psicóloga do Sono do Bebé.

psicologia do sono do bebé, psicóloga do sono do bebé Susana Magalhães

 

Leia primeiro no seu email.

Não se preocupe, apenas enviamos conteúdos que podem melhorar a sua saúde.