Pode parecer-lhe inofensiva, esta pergunta… Mas, sabia que para quem ouve, especialmente para pais de “primeira viagem”, a mesma pode soar a uma avaliação da sua competência parental?
Na verdade, nesta pergunta esconde-se uma série de pressupostos sociais e culturais sobre o sono infantil. Estudos mostram até que alguns pais e mães podem suavizar ou distorcer a verdade, quando falam sobre o sono dos seus bebés. Numa sociedade onde se valoriza o sono contínuo, consolidado, independente e solitário e que muito frequentemente se associa “dormir a noite toda” com “bom bebé” e “bons pais”, admitir que a criança ainda acorda várias vezes pode ser percebido como um fracasso.
No campo da psicologia do desenvolvimento, sabemos que o sono infantil é um processo complexo, em constante maturação, moldado por fatores neurológicos, emocionais e relacionais. Ao contrário do que se possa pensar, não é esperado que os bebés durmam a noite toda, sem despertares, nos primeiros meses ou anos de vida. Mesmo em adultos, o sono não é um bloco contínuo de horas, todos despertamos brevemente entre ciclos de sono, mas voltamos a dormir sem perceber.
Os despertares noturnos são biologicamente normais e têm uma função adaptativa: servem para alimentar, proteger e conectar. Em termos evolutivos, bebés que despertavam mais à noite tinham maior probabilidade de sobrevivência, pois estavam mais protegidos contra ameaças e desidratação.
Na consulta de sono do bebé, podemos ajudar a:
- Reconhecer padrões normativos de sono em diferentes idades;
- Avaliar o impacto dos padrões de sono no funcionamento emocional e relacional da família;
- Perceber a influência de fatores emocionais, ambientais e parentais no sono infantil;
- Construir rotinas flexíveis e sensíveis;
- Tomar decisões (por exemplo: co-sleeping, amamentação noturna, transição de quarto, etc).
Um artigo de Susana Magalhães, Psicóloga do Sono do Bebé.