Sendo uma das áreas da linguagem, a fonologia engloba competências de perceção, discriminação, descodificação auditiva, memória e consciência fonológica. Deste modo, a consciência fonológica é entendida como uma competência metalinguística que permite, conscientemente, refletir e manipular os sons que compõem a linguagem oral – fala. É a capacidade de identificar, segmentar e manipular unidades menores da língua e é demonstrada em tarefas como identificar ou contar o número de sons numa palavra, isolar sons numa palavra, inverter a ordem dos sons numa palavra, entre outras. Muito antes de as crianças desenvolverem as competências de leitura e de escrita, podem ter consciência dos sons que compõem as palavras e quanto maior for essa consciência, maior será a facilidade que apresentarão na aquisição da leitura e da escrita. As pesquisas sobre esta relação apontam para a clara importância do treino de tarefas de consciência fonológica como estratégia de prevenção a adotar.
Quais os tipos de consciência fonológica?
As frases podem ser segmentadas em palavras, as palavras em sílabas e estas nos fonemas/sons que as compõem. Sendo assim, a consciência fonológica subdivide-se em: consciência de palavra (noção de que o contínuo sonoro é organizado em estruturas mais pequenas, nomeadamente em frases e palavras); consciência silábica (perceção de que a sílaba constitui uma unidade gramatical estruturadora do conhecimento fonológico); e a consciência fonémica (capacidade de refletir sobre os sons das palavras). Esta última é considerada fundamental para a compreensão do código alfabético. Por esta razão, para que se possa iniciar a leitura e a escrita, num sistema alfabético como é o caso do português europeu, é necessário que as crianças percebam que as palavras podem ser divididas em sílabas e estas em fonemas que são representados pelo sistema alfabético, uma vez que as letras, só por si, são abstratas e sem sentido, por isso devem estar ligadas ao som correspondente.
Existe, ainda, a consciência intra-silábica que é a capacidade de análise e manipulação das unidades de som mais pequenas do que a sílaba e maiores do que o fonema. Tanto a consciência intrassilábica (isolar unidades da sílaba, as rimas) como a consciência fonémica apresentam um desenvolvimento mais lento que a consciência da palavra e da sílaba e defendem que se deve treinar, primeiramente, a consciência da palavra e da sílaba, porque são as de mais fácil aquisição, seguindo-se a consciência intra-silábica e, por fim, a consciência fonémica.
Embora algumas crianças possam adquirir a consciência fonológica de uma forma mais ou menos espontânea, a grande maioria necessita que se chame a atenção para as pequenas unidades de fala, nomeadamente para os fonemas/sons. Por isso, as crianças em idade pré-escolar, com uma consciência mais explícita da estrutura dos sons que compõem as palavras, apresentam uma maior probabilidade de se tornarem bons leitores, o que justifica a aposta numa intervenção preventiva de modo a que todas as crianças obtenham sucesso escolar. Deste modo, o treino da consciência fonológica é entendido como uma metodologia essencial para a formação de uma ótima expressão oral, para a promoção da decifração e compreensão leitoras e para o desenvolvimento das competências ortográficas.
É fundamental que pais/cuidadores e professores estejam atentos a alguns sinais de alerta para que haja um encaminhamento precoce para Terapia da Fala.
Sinais de Alerta para a Terapia da Fala
Pré- Escolar:
- Fala tardia;
- Produção de frases curtas, com palavras mal pronunciadas, omissões e/ou substituições de sílabas e fonemas;
- Dificuldades em pronunciar corretamente palavras;
- Dificuldades para dividir palavras em sílabas;
- Dificuldades em aprender e decorar canções, rimas e lengalengas;
- Antecedentes familiares de fala tardia ou alterações na linguagem e fala.
1.o Ano de escolaridade:
- Dificuldades em detetar e discriminar os sons da língua (por exemplo: quando a criança ouve “faca” e “vaca”, não identificando diferenças);
- Dificuldades em dividir palavras em sílabas e em fonemas;
- Dificuldades em associar as letras aos seus sons;
- Dificuldades na leitura de sílabas e palavras, especialmente palavras complexas ou pouco usuais no seu dia-a-dia;
- Erros no processo de escrita.
Deste modo, existem algumas estratégias que pode utilizar para desenvolver as competências de consciência fonológica:
- Dividir as frases em palavras (ex. “O João dorme na cama”) e descobrir quantas palavras tem a frase;
- Identificar a sílaba inicial das palavras (ex. descobrir qual a palavra que tem a sílaba /ca/ igual à de /camelo/: banana, caneta, vela);
- Jogos com rimas (ex. descobrir qual é a palavra que rima com caracol: cão, sol, coelho; evocar palavras que rimem com determinada palavra/imagem);
- Segmentar as palavras em sílabas (ex. descobrir quantos “bocadinhos” tem a palavra /cama/ e /banana/ e dizer cada sílaba; descobrir quais são as palavras curtas e as compridas (ex. descobrir qual a palavra mais curta, se é /menina/ ou /maçã/);
- Manipular as sílabas de uma palavra (ex. descobrir o que acontece com a palavra /sapato/ quanto tiramos a sílaba /sa/; o que acontece quando acrescentamos o /a/ antes de /braço/; descobrir como fica a palavra se trocarmos as sílabas de /lama/; o que acontece se na palavra /cola/ trocarmos a sílaba /co/ por /mo/);
- Identificar o som inicial das palavras (ex. descobrir quais são as palavras que começam com o som /v/ igual a /vento/: vaca, faca, vidro);
- Dizer palavras começadas por determinados sons (ex. dizer palavras começadas pelo som:
/ssss/; /zzzz/; /vvvv/; /ffff/; /xxxx/; /jjjj/).
Bibliografia
Mateus, M., & Freitas, M. (2005). Fonética e fonologia do português. Lisboa: Universidade Aberta.
Rios, C. (2011). Programa de promoção do desenvolvimento da consciência fonológica. Viseu: PsicoSoma.
Um artigo do Terapeuta da Fala David Almeida
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